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No coração da Baía de Guanabara, estende-se o manguezal de Itambi, uma área de preservação ambiental (APA) com 14 mil hectares, atravessando os municípios de Itaboraí, São Gonçalo, Magé e Guapimirim. Esta região, rica em biodiversidade, não apenas abriga uma grande variedade de espécies marinhas, mas também sustenta a vida de vários pescadores locais.
Pedro Marcos, 48 anos, é um desses pescadores. Com 40 anos dedicados à pesca, filho de pescador e pai de oito filhos, sustenta sua família exclusivamente através da pesca no manguezal de Itambi, compartilha uma narrativa de comprometimento e desafios. Ele descreve a vida pacífica do seu “escritório” ao ar livre, onde vive em harmonia com a natureza, gerenciando seu tempo de acordo com os ritmos da maré. No entanto, ele ressalta os desafios enfrentados devido à degradação ambiental, que afeta diretamente a abundância de sua pesca.
Ao longo dos anos, Pedro testemunhou as mudanças no manguezal. “Houve uma época em que os siris e caranguejos andavam sobre a lama, facilitando nossa pesca. Agora, eles estão cada vez mais nas profundezas”, lamenta. Pedro acrescenta que a degradação ambiental também é resultado da extração de árvores e outros impactos humanos, que afetam a vida marinha e a subsistência dos pescadores.
O Projeto UÇÁ, coordenado pela ONG Guardiões do Mar e lançado em 2012, não apenas promove o replantio de árvores de manguezal, mas também se tornou uma força unificadora na luta pela preservação. Com mais de 64.500 mudas plantadas em uma área de 18.2 hectares, o projeto monitora de perto os resultados positivos desse esforço, testemunhando o retorno de 44 espécies animais. Janaína Oliveira dos Santos, coordenadora geral do UÇÁ, destaca a colaboração com os catadores de caranguejos por meio da Operação LimpaOca, uma iniciativa que não apenas limpa o mangue, retirando 52 toneladas de resíduos sólidos de uma área de aproximadamente 47 hectares, mas também gera renda para os catadores, especialmente durante o período crítico de defeso de caranguejo.
“Além de gerar renda para os catadores de caranguejo participantes do projeto, principalmente nesse período delicado que é o defeso de caranguejo, onde fica proibida a captura, armazenamento e comercialização do animal aqui no estado do Rio de Janeiro, a atividade auxilia na atividade laboral dos catadores, pois após a retirada dos resíduos o ambiente fica menos perigoso, já que existe muito material perfuro cortante. Além disso, a retirada dos resíduos permite que o solo fique aberto, permitindo que os caranguejos construam suas tocas”, afirma a coordenadora do projeto.
Alaildo Malafaia, de 61 anos, presidente da Cooperativa Manguezal Fluminense, enfatiza a importância do apoio empresarial na manutenção da diversidade nos manguezais. Ele destaca o impacto positivo na retirada de toneladas de resíduos sólidos do manguezal, evidenciando mudanças tangíveis na restauração do ambiente.
“Tem pessoas que acham que esse trabalho é enxugar gelo, mas através desse trabalho já tiramos mais de sessenta mil toneladas de lixo. Temos registro do início desse trabalho e depois, nesse registro já é possível ver mudanças no mangue, a restauração do ambiente, tiramos do manguezal lixos perfurantes, lixo hospitalar, televisão, os mais variados tipos de lixos, então posso afirmar que qualquer contribuição para manter a vida, a diversidade no manguezal, é importante”, afirma Malafaia.
Para Alexandre Ribeiro, de 34 anos, presidente da Associação dos Pescadores Ecapesca de Itambi, conhecido como Tico, a responsabilidade pela conservação do manguezal recai sobre os próprios pescadores. Nascido em uma família de pescadores, Tico começou sua jornada aos 15 anos e agora leva seu filho para acompanhar na pescaria. Ele enfatiza que são os pescadores que mais contribuem para a preservação, pois vivem do que o manguezal proporciona, e por isso, têm um profundo respeito e comprometimento com a sua conservação.
Tico enfatiza que toda ajuda é bem-vinda. Ele pede mais envolvimento e investimento do governo municipal com catadores de caranguejo, lembrando que os catadores tiveram um período de investimento da prefeitura de Itaboraí entre 2001 e 2008 que, infelizmente, não se sustentou com a troca de prefeito na cidade.
Ao redor do manguezal de Itambi, várias famílias vivem da pesca, como a de Adilson Ribeiro Gonçalves, de 52 anos, conhecido como “Bigode do Caranguejo de Itambi”, que é pescador desde os 15 anos de idade. Bigode possui um estabelecimento chamado “Caranguejo do Bigode”, localizado próximo ao manguezal, onde ele oferece os frutos do manguezal para a população apreciar.
Apesar dos desafios e da falta de apoio governamental, os pescadores continuam a lutar pela conservação do manguezal, garantindo não apenas sua subsistência, mas também um sabor único. O deleite gastronômico é resultado do trabalho árduo desses pescadores, que enfrentam desafios diários para assegurar a sustentabilidade do manguezal.